sexta-feira, 27 de março de 2015

Trabalho

Nessa semana começou de verdade os trabalhos em um outro asilo e no orfanato de aishiworya. Saímos às 7h30, andamos uns 10 minutos, pegamos um ônibus, mais 15 minutos, depois andamos mais uns 10, até chegar no asilo. Incrível como existe lixo pelas ruas, inclusive passo por um rio totalmente poluído. Os ônibus são bem menores, em alguns nem consigo sentar com as pernas para a frente, não me cabem. Custa cerca de 25 rúpias a passagem. Um homem, ou muitas vezes adolescentes e crianças, são os "cobradores". Ficam em pé, descendo e subindo e gritando o destino. Lembra muito a época das vans em Brasília.

Ônibus em horário de pouco uso

Este novo asilo é bem diferente do asilo de Pashupati. Nesse, uma mulher conseguiu um espaço em um prédio não finalizado e reuniu algumas pessoas que moravam na rua. Existem algumas senhoras mais jovens mas que possuem problemas mentais. Algumas perderam os maridos, ou se divorciaram e não tinham mais nenhuma família para recorrer. Elas nos chamam de 'neto' e mudam de humor a cada dia. Diferente do outro asilo, nesse, elas são mais ativas. Muitas lavam as próprias roupas, a louça e ajudam nas tarefas. Existem alguns poucos homens e um deles não consegue sair da cama. Geralmente o alimento. Elas Brigam umas com as outras, reclamam, riem... Incrível como com sinais, olhos, bocas abertas ou o balanço da cabeça é possível manter uma comunicação. O Vishal que nos acompanha nesse trabalho traduz algumas vezes, mas são muitas senhoras. Varremos, carregamos comida, tijolos, lavamos roupas, ajudamos na cozinha... Trabalho mais pesado.

Senhora tomando Sol

Voltamos às 11h. O trânsito está um pouco mais pesado. Almoço sai 12h30. Dá pra descansar alguns minutos. Os vegetarianos não tem do que reclamar por aqui. Sempre tem muita opção.
Para o orfanato precisamos sair às 15h. Temos algum tempo pra planejar algumas atividades. A ideia é ensinar um pouco de inglês e tornar a vida deles um pouco mais fácil. Para o orfanato é quase o mesmo trajeto, mas é um pouco mais perto. E nesta semana choveu na maioria dos dias à tarde, o que dificultou nosso trabalho. Quando chove perdemos metade do nosso espaço para brincar. Para piorar as salas não tem luz.


Os meninos e meninas quase sempre estão cansados. Eles tem de 4, 5 anos à uns 11, 12. Os maiores nao ficam nessa escolinha em que trabalhamos, apenas onde moram, ajudando nas tarefas. Alguns deles são extremamente bagunceiros, não querem nunca cooperar e brincar com o grupo. Consegui converter um desses. Shiva, auto-entitulado "Monckey". fazendo tratos, negociando e com muito amor eles se rendem aos poucos. Muitos nos fazem carinho, pedem creme para pele, fotos, atenção, doces, colo... Eles falam um pouco de inglês quando querem, então facilita um pouco nosso trabalho. Cantamos, inventamos jogos, dançamos, fazemos de tudo para a tarde passar logo.
Às vezes brigam e tentamos interferir, tento passar alguns valores. Pelo menos Shiva parece ter aprendido que brigar é errado. E não é bom levar nada no bolso, principalmente dinheiro. Eles sempre conseguem checar nossos bolsos e é melhor evitar confusão.

7 comentários:

  1. Quando estiver mais velho, histórias não faltarão!
    Continue aproveitando essa jornada e volte com muitas histórias para contar.
    Grande abraço!

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  2. Tô louca pra ver as fotos! Filho, tudo nessa vida são histórias pra contar, cabe a nós escolhermos os personagens e finais felizes! saudades demais!

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  3. Isso lembra um pouco aquele asilo que visitamos...

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  4. É uma experiência que levarás por toda vida. Adler fala que todos os seres humanos aspiram a um ideal utópico para si mesmos, que é a perfeição, na qual superam os obstáculos e alcançam as suas finalidades por eles definidas. No entanto, o homem é um ser social e tem a necessidade de pertencer a uma família, a um grupo, a uma sociedade que supra suas aspirações. Este sentimento característico é definido por ele como sentimento de comunidade do indivíduo. No entanto, Frankl nos ensina que, nos campos de confinamentos, todas as situações levam o homem a perder seu controle e o seu senso de humanidade. O único fato que sobra para ele é a aptidão de eleger a maneira de como encarar esta circunstância. Um violento combate pela vida ocorre entre os membros da comunidade isolada, independentemente do tipo de campo. Pelejar pelo pão de cada dia e pela salvaguarda da própria existência faz com que as pessoas lutem, sem clemência nem compaixão pelos próprios interesses, sejam eles do indivíduo ou do seu subgrupo, seja este familiar ou de sobrevivência. Somente escapam da autofagia social quem não tem moral, não hesita em usar a violência ou em trair os amigos e os familiares.
    Portanto, procure nos asilos e nos orfanatos o sentimento de comunidade, pois, queira ou não, estes são apenas um dos muitos campos de confinamentos que se conhece.
    Namastê

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